12 de agosto de 2008

Jean Cocteau

Le poète ne demande
Acune admiration

Il veut être cru.

Tout ce qui n'est pas cru
Reste décoratif"

"Que ne donnerais-je pour qu'elles n'existent pas!

10 de agosto de 2008

Mim

Eu escolhi cerejas para comer. Fruta pequena, vermelha, saborosa. Carrega como virtude uma certa meiguice, mas seu denotativo é lascivo, quase um assassinato. Por isso fiz tal decisão:de hoje em diante só me alimentarei de cerejas. Como menina , aprendiz de ser humano e aprendiz de não-aprender(o que com tamanho sacrifício tentam me ensinar) , achei na fruta a dualidade como uma verdadeira intimação. Intimação de sobreviver às coisas triviais, aquelas que mais angustiam, a mediocridade de não se ter nada, a melancolia de não querer o que se têm. A fuga não é , como todos pensam , um sinal de fraqueza. Ao contrário, ela carrega em seu ato transviado uma enorme quantidade de coragem, de sair do trilho mórbido de determinada situação e mergulhar em outra, e o mais incrível : com consciência. A fuga é uma tentativa, os fracos não tentam...nao tem vez,acomodam-se deixando que o levem e o pisem, deixam acontecer. Fugir é experimentar uma dor nova, um objeto diferente para se cortar, uma cor de esmalte nunca usada. E nessas vertentes e infinitas possibilidades, vivemos encontros e desencontros(como diz Noel Rosa : “ Quem acha vive se perdendo...”). E de acordo com essa perda cotidiana , passei a me questionar laconicamente, o por quê de ter medo da morte. Bem ,eu tenho uma noticia um pouco triste para vocês: nós morremos a cada segundo. Cada atrapalhada e circunstância que vivemos e logo deixamos para trás ( ou que nos deixa), estripe uma parcela daquela vivência momentânea, que com toda convicção juramos sempre ser eterna. Mas não é. E aí que mora a perigosa e infame alegria de viver, nas constantes mortes e ressurreições, no infinito renascer do ser. Pelo que me parece, nunca saímos completamente da barriga de nossas mães, permanecemos sim, enjaulados por um carinho materno e um constante processo de formação . Dessa forma , cada vez que lutamos contra as grades, e fugimos,adquirimos uma liberdade de nascer. Porém por algum motivo cruel e necessário, o super-ego ou a sociedade nos mata e nos tornamos prisioneiros novamente. Muitas vezes somos acompanhados por uma inércia(tendência de uma constante),nos programamos, acreditamos , fazemos .... respeitando-lhe e lhe sendo fiel, mas a qualquer momento algum toque externo aparecera e será capaz de transfigurar e transgredir qualquer constância , colocando o surpreendido num limbo de confusão e dúvida. A surpresa é uma chave de cadeia . Cadeia alimentar baseada na nutrição e eliminação das absurdas ligações( inclusive amorosas) entre os seres que a ela são envolvidos: o preda-dor e a (sur)presa. A sociedade atual mesmo eh uma surpresa(afinal me supreende), prisão imediata, momentânea, algema da palavra pronunciada sorrateiramente num perigoso parágrafo, no momento que é feita.Uma prisão a procura de sua presa para saciar o desvairado anseio pela locomoção do passado, pela prisão das grades, pela impermeabilidade da constante ilusão que ilude e desilude o eterno prisioneiro que almeja a liberdade mas atrai as próprias algemas. E assim ocorre sucessivamente... o renascimento de pequenas almas que almejam qualquer coisa, qualquer descoberta, qualquer mentira. Renascer é estar dormindo e despertar de um pesadelo, é uma frivolidade esperta , deturpadora do passado e inovadora de um provável futuro. Renascer é uma cereja sem dono. Aquela que está pronta para ser comida por qualquer um, mas que tal qualquer um não está preparado para comê-la. Motivo: Medo de envenenamento. Mas estão certos de temerem, nascer de novo é um veneno que só deve ser consumido por alguns, pelos livres. É uma morte desejavelmente indesejada, que remete a uma vida indesejavelmente desejada. É ser crucificado na cruz de propósito, com propósito de se firmar corajoso e salvador, arrecadar fieis... mas sabendo secretamente que outro nascer o espera. É maledicência de dormir esquerdo e acordar direito. De ser vegetariano no sábado e canibal na terça. È se suicidar no verão carioca e ter comprado um dia antes um cachecol para o inverno europeu.

Dançar são as palavras que não posso escrever. Estou dançando minha vida, minha existência, minha culpa. Razão de existência, existência sem razão. Vazio. Total. Torturante. Por que será que ela me escolheu como irmã-siamesa? Quero fugir do Vazio, não só viajar. Viajar iria me tirar do lugar que quero sair, mas seria insuficiente.O Vazio eh a redoma de vidro. Desejo sentimento de fuga, saber e sentir que estou fugindo. Queria ir para algum lugar que não existe, com uma pessoa que não existe e comer algo que não existe..Estou infectada por mim mesma. Pelo vírus da sobriedade e lucidez dissolvidas na inconsciência ilógica. Tragar e ser tragada. Sofrer violação do eu , do outro. Sera que o eu quando Eu e o eu quando Mim são a mesma pessoa? Desprezivel acao de responder vazio a pergunta que transborda. Na verdade sinto as vezes que o mim faz mais que eu e que eu sofre mais do que mim. Será que nos tempos de hoje o sujeito esta sendo substituindo pelo objeto? Preciso fugir das palavras, dos parágrafos sem saída. Os versos das hemácias sem ferro. As lágrimas querem fugir mas também não conseguem...não saem de medo, se acumulam na máquina do consciente, o manipulando . Encharca tudo, e sempre quando acordo estou com muita sede. A sede me toma e não importa o que eu tome ela não cede. Nada me cede, e eu nunca cedo nada. Perder para que? Os cigarros nunca são suficientes.. Ceticismo horripilante. Indiferença. Confusão que navega na reta-reta. E de repente sofre grandes elevações e declínios. Quero sempre mais. Dormir uma época, um período. Sonhar com o que não posso ter. Tomar a substância que me transformará na bela adormecida à espera do príncipe desencantado que chega e foge. (E eh nisso que a idealização moderna virou). Fugir do outro é sempre mais fácil do que a fuga de si mesmo, pois mesmo com mascaras, drogas e sonhos você nunca vai conseguir se esquecer. A verdade é uma mentira em potência. E potência de zero dá sempre um. Impotência que potencializa o algarismo fraco e potente. Aquele que prende e omite os grãos de feijão das hemácias que gritam de necessidade. E eu rasuro tudo. Até meu nome.

Sentada sozinha percebo qualquer coisa que dê bandeira.Estou trancada na fechadura de senha indiscreta .Prisão voluntária de aceitar só o comovente. Dois copos, um na frente do outro, discutem, encaram , flertam dominados por uma certa timidez. Na tentativa de amenizar o tempo perdido faço algo novo. Brindo com ninguém e para nada. Sem ninguém a minha frente e conseqüentemente corpo algum, eu ouso diferente. Ousadia sem escrúpulo,brinde ao brinde! Lembrança da festa de criança que não quer esquecer o festejo e festeja em presentear o convidado. (Nostalgia, aquela época eu não era tão amiga da solidão!)Os copos batem e almejam sem finalidade. Por falta do outro, por sensação do único . Controlador do par que não controla a dor ( de repente não precise, esta sozinho). Brindar com o nada, ação carente de responder a não-pergunta . Abro o vinho com o dedo que rasga, sangra e agoniza. Outro brinde feito, bem feito! As hemácias excretadas pedem socorro mas continuam brindando o confuso machucado. Agora elas estão felizes, estão embriagadas... não tem censura. Liberdade mesmo que tardia – elas berram felizes! O ferro não eh mais uma necessidade. Brindar sem ninguém é mais feliz, mas facil. Não tem olhar e portanto não há exibição de delitos pela retina. Não tem verdade, nem saúde. È reflexivo , ímpar. Brindar com o nada é a falta das aspas e predomínio das reticências . Continuidade sem questão , infinitamente inquestionável. O copo sem dono é de qualquer outro. Interrogação importuna com resposta ilógica. Brindar é colocar o impossível como meta. É meter o objeto no lugar devido e delicado de outro sexo através de um toque e ação, e depois ir embora. È dever um carro-casa e não poder pagar. Vida : um jogo de resta-um. Movimento constante de peças , comidas e eliminações perversas.... que no final deixa uma peça solitária e vence. Vencer com a solidão!Será que no mundo existe vencedores e perdedores? Não sei , apenas vejo que os pseudo-vencedores brindam depois da partida e partem. Tão descobertos: menores abandonados. Eles também tão sozinhos , mas não percebem , eh como se o troféu substituísse a companhia.Brindam com a ausência de algo e presença de uma glória pobre. Brindar, iludir-se no anseio ( em memória do “ recordar, satisfazer-me no abandono”). Todos são vitimas, todos são culpados. O seio roubado pede perdão pelo pecado ainda não cometido. Come-te o puro e oferece um liquido para melhor degustar. Ridículo de gozo, uma coxa sob a outra....E ao acordar percebe o brinde que foi feito com ninguém e para nada e logo desfaz, tudo .Rapido assim. Quando estamos sozinhos somos. Caminhamos com mais cautela, esperando um gránd finalle escondido , não assumido. Andamos sem motivo, razão de considerar o nada como possibilidade.O pé depois do outro enfrenta umas dificuldades por que tem aqueles importunos que piscam.Tentativa cruel de subornar o outro pelo olhar.Paixao que eh paga a vista . Tire a roupa, se vista, aqui seu dinheiro.

Espero algo sem fim.Sem finalidade, sem começo.Às vezes aparece montado em um cavalo de pau.Se materializa na palavra pacote.Empacotar um adeus que diz sempre oi.Sentido cíclico das coisas que almejam a linearidade.E de fato são.Motivo:suruba. Mistura infinita da validade de cada um.Mas me ocorre nesse momento indiscreto que nenhum indivíduo tem validade.Todos são vítimas do prazo, mas a validade é muito taciturna.Ninguém presta.Presta serviço, presta auxílio, presta desejo.Ou melhor, empresta desejo.Mas no ombro do soldado é diferente.Prestar por si só , de forma alguma.Pagar a prestação é outro hábito.Coisas são pagas à parcela sempre.Medíocres degraus da escada .Tudo se sobrepõe ao declínio da montanha chuvosa.È pago aos poucos , parcela desprovida de todo instantâneo.E eu continuo esperando.A espera também é em parcela.A cada prazo mais e assim permanece.Até que chegam os juros e juramos que nunca mais deixaremos chegar a esse ponto.Mas o ponto sempre chega de novo, trazendo o final daquilo que não tem fim. Costume insensato de não obedecer às próprias regras. O juramento do se apaixonar pelo o que não é.Ou pelo o que deveria ser.A parcela do agora submetida à subversão da palavra pacote.E o pacote armazena cada produto capitalista da multiplicação sem procriacao.Todo número multiplicado por zero dá zero, já disse.A ordem das parcelas não modifica o produto.Por isso que o pacote se orgulha, porque ele é dono, ele eh o objeto que engoliu o sujeito, eh o mim que dominou o eu.E eu já não sei mais o que espero.Nem porque espero.Mas eu continuo esperando.Esperando o inesperado , provavelmente improvável.

Agora, nessa cena meus olhos estão molhados, mas não choram. Não precisam. A agonia é sutil. Entre os dedos seguro um desenho sem futuro. Minha consciência acredita que nem isso posso fazer. Mas faco... As faces atrasadas caminham com pressa pela rua e me olham de banda. O mundo acelerado não tem tempo de questionar a inércia da jovem, de mim. Percebo e isso se torna uma questão. Por que tão individualistas? Dou uma olhada no desenho e o amasso. O rosto continua apático , mas meus dedos viraram brutos e o destroem. Percebo que tudo a minha volta é lixo. Neutralizo todo tipo de relação que tenho ou tive. Afogo-me, eu sou aquela peca que restou do resta-um, . A mesma solidão vivida pelo último cigarro do maço , que foi esquecido. Mas em algum momento será desejado por alguém( afinal eh o resto mais valioso que existe) e que as vezes salva até vidas. Mas eu não, não salvo nada, nem eu mesmo.Vou comer uma cereja. De repente dou um pulo suficiente e levanto. Agora sou a determinação na forma de menina, estou totalmente livre.Meus pés possuem vidas próprias a qual a única razão de viver é pisar com determinação naquele asfalto infeliz mostrando que não eh esse mundo que vai tirar meu lirismo, que eu piso nesse mundo, que eu rodo e pulo o mundo. Meus olhos não piscam , já estão fechados. Estou sendo guiada por uma música que só eu escuto e agora eu sou , não ha nada a minha volta, nem um olhar, nenhum copo, nenhuma burocracia. Eu sou o mundo. Começo a correr. Esse movimento me lembra o desenho, que agora se tornou motivo de saudade. Esse desenho era um sonho. Os sonhos são presente, não futuro. Eu tenho muita preguiça do futuro.. Tudo bem , a água vai acabar,a camada de ozônio vai acenar um adeus, daqui a alguns anos teremos clone e mais cedo ou mais tarde Veneza vai se afogar. Mas e aí? Todo mundo se afoga, eu mesmo não sei nadar até hoje e ninguém se preocupa. O futuro do pretérito eh o pior, “eu faria, tu farias,ele faria”...todo mundo faria, ninguém faz. Também seria muito fácil eu afirmar clichezamente que “ O futuro é agora” . E aí entra a sociedade do controle e imposição, essa que é um Ropinol injetado na veia gritando “ OVERDOSE!”. Tudo bem, eu respeito tranqüilamente os que querem e acreditam em fazer a diferença, em transformações, em projetos , mas eu não sou desse tipo, não me encaixo nessa trupe . A sociedade tem uma mania atordoante de criar lendas e acreditar nelas com uma entrega tão repulsiva, Gente, cigarro não faz mal, alou, isso é uma piada. Outra que me da muita preguiça eh o mito:“Sente-se cosquinha de baixo do braço” . Nossa, eu nunca conheci uma pessoa que realmente sentisse cosquinha de baixo do braço, eu digo cosquinha de verdade,sincera...não aquela falseada pelo gritinho“Ai, pára,pára”.Ninguém sente, são enganados e enganam. Mas é assim: alguém inventa, alguém acredita e está feito. Que nem com os produtos: alguém produz, alguém compra, pronto! virou moda. E eh assim que caminha a humanidade, não é com passos de formiga não(desculpe , Lulu Santos) é muito mais veloz, eh como o modelo de esteira dos Pós- Fordismo,a padronização da produção. Antes fôssemos formigas, pelo menos seríamos originais, vivas.

Tudo cerquei nas minhas próprias perdas.Meus enganos, nao mais tolos que meus falsos acertos me fizeram crer que os projetos de outrora eram indomaveis sonhos!Ainda amaveis sonhos que se auto-destruiram por uma questão de insensatez, preguiça,ego.Não ter razão .Os angulos, são maltrapilhos que não conheceram a Princesa Isabel.Indepêndecia ou morte?Por que tudo depende do ponto de vista?Tenho a impressão que devemos pontear a vista e vestir os pontos.Não existe claridade, só bolas de neve.. só dominós.Frustração domina nós e esquece.



Ass.: Hell

5 de agosto de 2008

Tenho certeza que estou sendo viagiado.
Aguardas à espreita dentro de sombras nas ruas.
Esperando expor-me à janela!

Deus te crie! Cobra criada!
Porque não vens logo até mim!
Dê-me logo o tiro no infinito!